segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Aurora estava decidida a nunca mais compartilhar uma mesa com um estranho, nem para um café e muito menos para um sorvete. Mas esta certeza foi colocada em cheque quando um rapaz não tão mais velho e nem mais novo se aproximou e a perguntou se podia fazer companhia. 
- O café está cheio, se importa de me deixar sentar aqui? 
- Claro que não, a vontade. 
Na realidade, em sua cabeça soava algo como um pequeno xingamento por voltar atrás de sua tão certa decisão. O rapaz tinha um sorriso simpático, qual seria o problema. Sua desconfiança era real, além de muito simpático e bonito, o gajo tinha um certo sotaque que não era de um brasileiro e muito menos de alguém que era nascido no interior de SP. Um sotaque meio germânico, italiano e mineiro. Antonio nasceu no Brasil, passou a infância na Alemanha e voltou ao Brasil tem alguns bons anos. O papo foi tão agradável que rendeu mais alguns dois ou três cafés e isto que ainda eram apenas quatro da tarde. 
Aurora e Antônio falaram de tudo. De livros, de música, de sonhos, de porres e algumas decepções. Tiveram boas conclusões sobre as coisas e principalmente sobre a vida. E principalmente de café, de afeto e requentado. E concluíram: Essas últimas horas nunca deveriam ter passado. 

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Parto-me em pena.

Aurora tinha sérios problemas com relacionamentos, seja os que teve ou os dos outros e não era por mal. Aurora fazia o tipo de mulher que era mais menina, mais levada. Aurora havia abandonado seus longos cabelos loiros e lisos. Deixou as químicas de lado. Aurora trazia consigo os traços da maturidade, e diga-se de passagem, digo que infelizmente o deixou. Mas voltando a falar de relacionamentos, nossa personagem era do tipo que se apaixonava fácil e claro que tenho que dizer que isto é um grande defeito. Eu digo defeito, porque como se diz no velho ditado, quanto mais alto o sonho, mais alta a queda também, e foi de tombo em tombo, que ela aprendeu a não ser tão intensa. 

É uma pena. 

A intensidade com que Aurora fazia com que o ar entrasse em seus pulmões ou que seu uísque descesse pela garganta não era fácil de ver em uma pessoa. Ela era do tipo de se entregar de corpo e alma à tudo. Era lindo. Mas amadureceu, e como todo processo biológico/natural, teve seus parcos momentos de reflexão e deixou de ser tão intensa, passou a ser mais racional e é claro que este parto ocorreu quando Aurora pôs fim ao seu primeiro relacionamento, que durou em média quatro anos. 

Aurora queimou as fotos, as cartas. Doou as pelúcias à um abrigo de crianças e fez questão de quebrar uma garrafa de vinho que estava na geladeira. Aurora teve sérios problemas com este relacionamento. Ela não queria terminar, amava o rapaz, mas sabia que levar o amor em frente lhe daria muita dor de cabeça. É que o amadurecimento biológico chamou mais alto. Aurora tentou disfarçar em rostos, caras e bocas, mas sofreu intensamente a dor do parto-me. 

Mas agora cresceu. 

domingo, 14 de dezembro de 2014

Hospedeiro indesejado.

Aurora já não suportava a vida na capital. Os carros, as pessoas, os muros cinzas. Tinha nojo de abrir sua persiana e dar de cara com outra persiana. A vida não era mais amarela. Ela sempre quis se mudar para o interior pois, sua vida toda foi embalada por histórias de quem fugiu da vida pacata e tranquila para tentar o sucesso na capital e disso, Aurora não entendia bulhufas. 
Aurora tinha em mente sua casa no interior. Ela teria uma janela bem grande e flores na fachada. Seria de tijolos e de paredes amarelas por fora. Por dentro, teria dois ou três cômodos que lhes seriam suficiente para dormir, guardar suas tranqueiras, vulgo seus livros, e hospedar algum amigo que quisesse também fugir dos devaneios da cidade. Sua cozinha seria grande e teria um forno à lenha. Aurora ria imaginando muitas crianças pela casa e pensava sobre maternidade, daí lembrava que seu salário mal a sustenta e que a ideia de ter filhos, pelo menos por enquanto é descartada. 
Nesses momentos de sonhos, a menina se delícia com uma realidade tão desejada e tão distante. É que enquanto Aurora reflete se abre ou não a persiana de seu quarto, aquela que dá de frente para outra janela, a utopia de ser absolutamente e inteiramente feliz a consome. É que nessas reflexões que percebe o quão o nosso ser é frágil, o quanto nossos dias são curtos, o quanto somos solitários. 

terça-feira, 9 de dezembro de 2014



O sinal toca, a vida toca.
Caí o silêncio e a rotina,
Da professora e da aluna.
Ana Lua? Cada um na tua.
A porta fecha, o quadro fica branco
Hora de lanchar, acaba-se a missa e começa a rezar.
Uma hora de silêncio, cinco horas de vertigem
É bom o fim.
Fim da recuperação e da alfabetização.
Cicatrização.
Cuidado com a vala e o lixo.

Esperamos a emancipação.

Diálogo de Pan

Peter disse que é importante se soltar...
das amarras, das armadas, das algemas, das gaiolas.
É que o abraço que ele me deu, me escondeu...
das quebradas, das indiadas, das maldades, da agonia.
É que nós concluímos: vamos voar por aí, sonhar por aí.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Primavera, sorvete e prosa.

Aurora mesmo sabendo dos problemas causados pelo seu vício em cigarro não o conseguia deixar. É que por exemplo, nesses dias quentes e de céu azul ela não consegue evitar ser consumida pelo tédio e acaba tragando suas cartelas mais do deveria e menos do que gostaria. Aurora já foi, como quem sabe, um doce de mulher. Não havia dias de céu azul que não despertassem um sorriso no seu rosto e uma vontade louca de fazer tudo ao mesmo tempo. Esses dias normalmente terminavam em sorvete. Havia a algumas quadras de seu pequeno apartamento uma sorveteria tocada por um senhor que já carregava seus bons anos nos ombros, e ali se saciava de duas bolas de um fino sorvete artesanal. Uma de creme e outra de brigadeiro.
Em um desses certos fins de tarde ensolarados e de céu azul, sentada na frente da sorveteria Aurora teve a desgraça, digo, a oportunidade de conhecer Pedro. Ele era um tipo atlético meio esguio, andava com postura e parecia não olhar muito para os lados, mas tão bonito que desviava os olhares de todas as moças e de um rapaz naquele local. A sorveteria estava cheia e não havia muitas cadeiras sobrando, sendo que uma delas estava na mesa de Aurora. Esse tipo percorreu com um olhar rápido, varado pelas lentes de seus óculos clássicos e quadrados um lugar vago, e em tempo antes que Aurora se fizesse de sonsa, perguntou se ela se importaria de dividir a mesa com ele.
Este simples gesto iniciou uma conversa um pouco monossilábica entre os dois. Alguns nãos e sins. Alguns sorrisos tímidos. Algumas prosas aleatórias e comentários sem fundamento, tais como: ‘linda tarde, não?’
Aurora adorava fazer amizades e conversar com estranhos, mas por algum motivo, e eu gosto de pensar que era seu anjo a protegendo, não conseguiu afinar um papo muito eclético com Pedro. E se sentiu mal por isso.
O rapaz terminou seu sorvete, flocos e creme, agradeceu a bela companhia de Aurora, mesmo que silenciosa, deu um beijo em seu rosto e com um olhar sereno o disse que iria torcer para que houvesse mais uma vez uma cadeira vaga do seu lado, seguiu em frente, desacorrentou sua bicicleta, abano um adeus e dobrou a esquina, desaparecendo do raio de visão de Aurora.
Aurora instantaneamente abriu a bolsa e sacou um cigarro da carteira e meio tremula o acendeu e não desgrudou o olhar da esquina. Aurora conheceu Pedro em questão de algumas poucas horas, diga-se de passagem, menos que duas. O gajo gostava de tardes ensolaradas, de sorvete de creme, de andar de bicicleta, de ler com frequência e lia Fernando Pessoa, era bem bonito e fazia um tipo de homem que toda garota suspira. Aurora, acendendo seu segundo cigarro e enchendo seus pulmões de fumaça se corrói de raiva de não ter arrumado uma maneira de manter contato com Pedro.
É que desde o episódio, Aurora não foi mais simpática e não deixou que ninguém partilhasse sua mesa. E se ele fosse um homem pra vida inteira? Acendeu outro cigarro e abriu seu livro de cabeceira e leu a frase: ‘o amor é ridículo’.


sexta-feira, 28 de novembro de 2014

É que assim que a coisa acontece,
vem de noite, sente-se muito
despede-se num aperto e num segundo.
Retorna para a casa, toma café.

Ah, se a vida fosse recheada desses encontros.

sábado, 22 de novembro de 2014

Sem foco;

Sei que os olhos eram tímidos e atravessados por dois vidros, e que o sorriso era largo, tanto que atravessava as esquinas do teatro. Acho que perdi o foco, acho que me tirou pra valsar.

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

É que no fim da tarde a gente para,
repensa o dia, lembra das cores e dos sorrisos.
Jura que amanhã vai ser outra coisa, 
repensa as coisas, os sons e os ritmos. 
Olha a chuva na janela Glauco!
Pensa que as gotas são as rotinas
renovando a grama,
molhando a alma,
reinventando a vontade de ser.
(é da Ana mesmo)

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Papo de Café

- Glauco, quer café? 
- Pode ser.
- Quer quanto de açúcar? 
- Poxa Aurora, você sabe que tomo amargo!
- E acho terrível.
- Ora, cada um tem um gosto. O meu é amargo, não implique. 
- Tudo bem, te faço amargo, fresco.
- Olha só como fala comigo, não seja grossa!
- Você gosta do meu jeito grosseiro, vai dizer que não agora? 
- Você é uma pedra preciosa bruta. E coloca bruta nisso (gargalha).
- Vou colocar tanto açúcar no teu café que irá lhe causar diabetes, Glauco.
- Você não tem coragem, é um doce, como teu café. 
- Não me venha com essas frases de efeito que nada ira funcionar. 
- Não mesmo?
- Não. 
- Então só me traga o café, está bem?
- Venha buscar, já que sou tão bruta, acho que vou quebrar tua caneca predileta. 
- Ai Aurora, tuas mãos são muito sensíveis e firmes, eu que o diga, não vai derrubar café e nem a caneca.
- (risada maliciosa) você não presta.
- E você me ama. 
- Amargo, né? 
- Ama?
- Docemente. 

terça-feira, 28 de outubro de 2014

Aurora sempre teve um auto-controle muito grande. Auto-controle em todos os sentidos: sabia a hora de parar de beber em uma festa, sabia o limite da hora de acordar, sabia de suas obrigações, sabia a hora de parar de chorar, sabia a hora de escrever e também soube a hora de parar de fumar, por mais que tenha algumas recaídas quando está nervosa e nessas horas ela puxa um cigarro da carteira de couro que guarda no criado muda, dá uma ou duas tragadas e já o joga fora. 
Certo dia, em um encontro casual que deveria ser apenas mais uma casualidade que deveria ser apenas vivida de forma intensa e radical, como sempre foi. Lhe chamou a atenção. Não houve nada demais. Aurora viu um filme muito bem acompanhada e daí sentaram em uma praça de frente ao lago próximo do cinema e passaram ali algumas poucas horas. Disse poucas horas? Quis dizer muitas horas. Na realidade para ser bem exata foram quatro horas e quarenta e sete minutos. Um papo que levou a outro, e a outro, e a outro.
Quando Aurora entrou em casa o sol já se arrastava atrás da janela, e pensou: Nada de sexo? Nada de indiretas grotescas? Oquei, isso realmente foi diferente. Ela se sentou no sofá e não conseguiu dormir lembrando dos episódios engraçados que a conversa teve. De fato, aquele encontro não foi nada clichê e sabe do que mais? teve vontade de repetir. 
Dessa vez, o encontro acabou na casa de Aurora, no sofá e na cama, mas ainda com longas conversas. Era vicioso. Aurora se lembrou que assim como o cigarro, ela parecia precisar ter que dar algumas tragadas na conversa para dormir tranquila. Era quase sem querer, mas ao mesmo tempo muito bem intencionada. 
No dia seguinte, Aurora abriu a geladeira e viu um suco de uva que estava pela metade. Sorriu e se serviu. Lembrava dos detalhes e afagos, dos afetos e sonetos, músicas e risadas. Era bom e era afeto, não era clichê, mas era bem perto.  


terça-feira, 14 de outubro de 2014

crônica de mim

Já parou pra pensar que é nos momentos de pura intimidade que paramos para pensar sobre nós mesmos? Sim, naqueles solitários principalmente! Como a ida ao banheiro, quando teu organismo está prestes a evacuar o que não lhe serve mais... é neste momento que você se questiona, pensa, repensa e até mesmo chora. Você elimina nestes momentos, os pensamentos que não lhe servem mais, ou os que mais lhe aflige. Pensei esta reflexão no vaso. Engraçado, acho eu e um tanto quanto constrangedor.

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

sábado, 27 de setembro de 2014

Café Passado.

Foto : Francisco Abelha (Chico Abelha)*

Eu gosto de pensar comigo e meus botões, que vou dormir esta noite e ao acordar, vou até a cozinha e no mesmo coador de pano surrado e marrom pelo tempo, fazer um café forte e bem doce. Vou pegar minha caneca predileta, a vermelha e mais larga, colocar 2/5 de café, quente, forte e doce. Ir até a geladeira e ao tocar na porta tomar aquele choque, pois estaria descalça. Colocar leite gelado até a borda e deixar ele no ponto: um pingado. Nem quente e nem frio, no ponto. Ir até o armário, pegar duas fatias de pão de trigo e colocar margarina, esquentá-los na chapa e lambendo os dedos pegar o prato de porcelana. Levar até a mesa, o prato com os pães e o café morno, me sentar naquele lugar que dá para a janela e enxergar do outro, o muro de casa. Saborear meu café da manhã, com gosto de casa, de saudade. 
Depois da cerimônia, tomar um banho rápido, vestir um jeans surrado e até mesmo um pouco sujo e repensar toda a rotina que deverá se cumprir naquele dia. Ler, escrever e e pensar na volta, na casa e na cama, nos botões da camisa e nas horas que correm apressadas no relógio. 
É pena que toda a rotina é interrompida com a dor e a alegria de estar viva, de ser intensa. É pena que o café as vezes está fraco demais, ou frio demais. Ás vezes eu preciso trocar por chá, ou por uísque. As vezes eu preciso me preencher de fumaça para compreender que a falta deve ser o reencontro com o ser. Eu gosto de pensar comigo e com meus botões, que vou dormir esta noite e ao acordar, vou até a cozinha preparar meu café e depois, irei ao banho, as leituras e as coisas rotineiras de uma vida comum de uma pessoa comum. 
Hoje por incrível que pareça, foi diferente. Me perdi, tomei um banho antes do café e acho que que nem o tomei. Hoje, sentei na porta e fiquei com os pés para fora. Chovia muito e eles ficaram ali apreciando a chuva. Percebi que podia ser diferente e que na realidade era sábado. Este dia é incomumente diferente. As coisas trocam de horários e eu posso pensar na cerveja e talvez, e até mesmo em tomar um banho de chuva. Pensei comigo e com os botões que hoje, sábado, eu iria fazer meu café, no coador de pano, mas que também eu podia tirar uma das colheres de açúcar do café. Deixá-lo um pouco mais amargo, e quem sabe frio. Faz bem senti-lo frio. Faz bem um café e um parto, ou será que não o fiz? Sei que acordei. Eram duas da tarde da sexta-feira, eu perdi a hora e o dia, o café se foi e eu sentei na cadeira, sem fome. Meus botões avisaram que eu precisava de um banho longo e quente, que eu precisava de um dia desses, de passagem. 



*Chico Abelha é um pesquisador que aprendeu uma maneira de fazer as coisas bem feitas, com muito amor e prazer, na instituição "Faculdade da Vida". É um pesquisador do povo, formado pelo povo. Se dedica a fotografar e narrar, na simplicidade e humildade, aqueles que são invisíveis por muitos na cidade de São José dos Campos e na região do Vale do Paraíba, Serra da Mantiqueira e por ali. Uma pessoa das quais eu tenho muita alegria em ter conhecido e ouvido nesse último ano. Fica o perfil dele no Facebook pra quem quiser acompanhar o trabalho - Chico Abelha (perfil) 

domingo, 17 de agosto de 2014

Paixão

É o que costumava-se dizer quantos aos amores. Junto das flores estariam as dores. Mas de que seria o amor sem a paixão? Ah, a paixão. Aurora ainda tinha seus vinte e poucos anos quando conheceu a paixão, ela envolveu todo seu corpo. Desde o pé até os fios de cabelo que se enrolavam na mão do rapaz, da boca seca até o frio na barriga. Aurora foi consumida minuto à minuto por uma força estranha e se tornando incapaz de se controlar. Estava em cima do rapaz, se desmanchava e cavalgava furiosa, hora caia e se via olhando para ela mesma. Estava satisfeita, era um banquete de paixão servido quente e sem pressa para acabar. Quisera pobre Aurora, saber que havia hora para acabar sim. Vestiram-se e se foram cada um para sua respectiva residência, um beijo. Ele desejou ela até o pegar no sono, ela o desejou por toda a vida. 

domingo, 10 de agosto de 2014

Eu estava tentando entender em qual sentido o mundo estava girando. Se a favor ou pra esquerda, se contra ou de direita. Acabei desistindo quando passei pelo primeiro semáforo e percebi que as coisas não devem ser entendidas. Sentei em um banco e virei o pescoço pra trás e como num passe de mágica, uma brincadeira de ligar os pontos, li nas estrelas o que me faltava para entender qual o sentido do mundo, mas do meu mundo, do meu céu particular. Entendi que a resposta vem assim, sem sentido. Se me procurar estou no telhado, lá tenho a paz e a calma de ser e estar no mundo. 

segunda-feira, 2 de junho de 2014

Cuidadora de Porcos

Em uma vila no interior da cidade grande, onde o tempo parou e seus ares campesinos ditam os modos ser e existir, uma menina nasceu sem saber qual seria seu destino. Seus pais criavam porcos, e eram muito felizes na simplicidade de sua existência. Os processos eram os mesmos desde a vida de seus antepassados. Um macho e uma fêmea. A reprodução e o engorde. A venda e o Lucro. Simples assim. 
A vida passou e com ela, seus anos. A menina cresceu e a vida se encarregou de envelhecer seus pais e levá-los a seu merecido descanso. Mas os porcos, esses ficaram. 
A menina não queria cuidar deles, imagina? cuidar de porcos! 
A vida se encarregou de que um dia acabasse a farinha, o milho e a menina se visse obrigada a entrar dentro do cercado e cuidar deles. E aos poucos, se viu envolto dos animais, cuidando e se vendo reflexo, do carinho e dedicação que fez seu sustento, sua infância e sua vida. Queria fechar os olhos e recordar das maneiras de fazer que seu pai fazia com tanta dedicação. Cuidar de porcos exigia muito mais que cuidar de animais, cuidar de porcos foi olhar para si e se ver permanentemente feliz. Sua vida, era seu amor. Sua vida, era cuidar de Porcos. 

sábado, 3 de maio de 2014

Ple-ciso

Eu costumava enxergar seu reflexo todos os dias, não sei se era Platão ou Narciso, mas sei que era amor. Era um jeito próprio de amar de versos curtos e sexuais, tão profundos que deixavam de ser românticos, e se tornavam ecléticos. Eu te idolatro, consumo e contemplo, amor próprio e para ti. Uma dualidade apaixonante e errante. Era a representação do eu em ti, e ti em ti próprio. Queria acertar algumas coisas, porque Platão acha feio tudo aquilo que não é Narciso,  e acho que era vivo. Que raios! Não sei se vivo ou desisto, sei que amo, sei que sou reflexo, chuva e sol. Sei que preciso, Narciso.

sexta-feira, 2 de maio de 2014

em um universo onde o foco é a criança, seu cuidado e educação, devíamos parar e nos perguntar: até que ponto estamos prontos e nos educamos? é da humildade de ser educador, que se faz educador. é no ensinar e aprender constante que se faz escola, é na vida e no cotidiano que se humaniza. 

humildefique-se

quinta-feira, 24 de abril de 2014

IemaMar;

Eu pedi pra tudo ser novo de novo, 
pedi pra mãe Iemanjá levar a vida pro mar. 
Eu pulei as sete ondas, agradeci.
Ajoelhei na praia, no mar, na chuva e no frio. 
Pedi mudança da água pro pão. 
Ganhei amor, força e felicidade. 
Já não sou mais a mesma, 
católica de nascença, 
tenho a mãe preta que leva pela mão. 
Sou mulher do destino, 
sou mulher que o mar firmou.

(sobre um ano novo na praia de 2011, sobre um novo rumo que se iniciou, obrigada Gui, por me lembrar desse momento, esse também é teu <3 font="">

domingo, 9 de março de 2014

De passagem

De vagão em vagão
o senhor fiscal recolhe os bilhetes da viagem:
- senhorita, tem o bilhete?
- esqueci em casa senhor.
- não poderá seguir viagem então.

e de bilhete em bilhete,
de passagem,
a vida te leva parte da viagem,
é de passagem, que o bilhete te leva
pra ficar ou seguir,
é escolha ou esquecimento.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Azulejo


                    Eu e você, uma escadaria de azulejo, muitas árvores, pessoas subindo e descendo as escadas, e nós dois ali. Não era aquela do Rio, mas era de Porto. Acho que subi um ou dois degraus para te olhar nos olhos. Sei que não te conhecia bem, sei que não me conhecia bem. Todo aquele sentimento era novo. Acho que fiquei uns bons minutos paralisada tentando entender todo aquele desejo.  Lembro que a chuva caía serena sobre nosso amor, que mesmo com beijo, não era obsceno. Ele me apertava pela cintura e me olhava, mas o olhar era erótico, esse era. Olhos famintos, olhos de quem estava cego de amor. Era amor, talvez não soubessem, mas era. Me cantarolou canções no ouvido e juras de amor segurando minhas mãos, eu não sabia que música era, mas cantarolava a melodia pra ele. Era um amor, sereno, paciente e sincero. Era amor de escada, que sobe aos poucos. Que sobe três e desce dois, mas que sobe. Amor de azulejo é assim, deixa para trás degraus para ser forte. Amor assim é de suspirar, de faz de verdade pra acontecer. 





*** A escadaria existe e a história de amor também. Ela está localizada no centro de Porto Alegre/RS  entre as ruas Duque de Caxias e André da Rocha. A escadaria 24 de Maio foi revitalizada pela artista plástica Clarissa Motta. (http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/cultura-e-lazer/artemosfera/noticia/2011/12/poesia-ao-pe-da-escada-novas-obras-chegam-as-ruas-de-porto-alegre-3606585.html)

sábado, 1 de fevereiro de 2014

Andam dizendo por aí.

Capítulo I - Sobre o Amor

Andam dizendo por aí, que o que falta é o amor entre as pessoas pr'esse mundo melhorar. Mas se pode amar sem interesses, sem segundas intenções? Não posso te abraçar sem querer sem corpo, não posso te beijar sem querer tua alma. Amor é egoísta, logo como pode ser bom? Amor bom é aquele que é humilde, mas amor humilde é aquele que te faz sofrer e se faz sofrer, é amor? Amor é paradoxo, não me atrevo a dissertar sobre.

Capítulo II - Sobre a Cultura

Andam dizendo por aí que o que falta é cultura. Cultura de ler o saber e transmitir. Cultura não é egoísta, por mais que tenha uns por aí ,que neguem que um pouco de rebolado não faz parte de cultura. Sou a favor do rebolado e do rebocado. Mesmo as paredes que não tem chapisco, tem uma beleza. Que toque quando o sol voltar ou quando a cadeira quebrar. Mas andam dizendo por aí que o que falta é cultura, me diz, como não faltar, se não há dinheiro para se pagar. A  arte é privilégio.


Capítulo III - Sobre a Poesia

Andam dizendo por aí que o que falta é poesia. Acho que tudo o é, que não é preciso rima, verso e prosa. Que há poeta por todo lado e que em todo lado há um poeta. Não existem pseudo poetas, mas pseudo poesias, que são guardadas e nunca vistas. Poesia é livre, não falta poesia.

Capítulo IV - Sobre a Educação

Andam dizendo por aí que o falta é educação. Justo, acho que falta mesmo. (em todas as estâncias)

Capítulo V - Sobre as Coisas

Andam por aí, dizendo talvez, que as coisas não fazem sentido. Concordo em partes, acho que no todo, há coisas que são e que não são. Amores que são coisas nas vidas das pessoas, coisas que são valiosas como poesias. Sobre todas as coisas, a única coisa que sei, é que não sei de nada das coisas.

Capítulo Extra: E saber das coisas não me interessa, por que a beleza do ser, está na procura delas.