terça-feira, 21 de julho de 2015

Putrefação

largando pedaços da gente pelo caminho
se empoeirando, se esquecendo, apodrecendo.
cansando de cuidar das feridas,
cansado das doenças
vamos morrendo, putrefando


domingo, 19 de julho de 2015

Mudança;

Finalmente Aurora conseguiu se livrar de uma maldição chamada aluguel e isso a empolgou como  à horas não ficava. Encaixotou cuidadosamente seus livros, fotos e bugigangas. Fez um retorno à lembranças, nem tão boas, de todo seus anos, da infância até o dia anterior à mudança. Aproveitou para se desfazer de muitas coisas: roupas, livros, cds, ursos de pelúcia, lembranças, saudades, etc.
O novo apartamento de Aurora não tinha mais aquela janela de frente para outra parede. Tinha uma sacada onde poderia observar os telhados das casas ao redor, e ao fundo, árvores de um parque próximo. O projeto "mulher saudável" poderia entrar em ação. Ele tinha uma cozinha americana e um balcão, onde pensou poder beber com os amigos e cozinhar para eles, quem dera se os tivesse. 
A primeira aquisição da nossa personagem, seria uma lata de tinta amarela. SIM, Aurora teria sua tão sonhada parede amarela onde depositaria seus desejos, sonhos, lembranças enfim. A pequena casa ganharia aos poucos pequenos detalhes que somente Aurora entenderia.
A primeira noite, com apenas um colchão velho jogado no quarto, Aurora se sentou na sacada e acendeu um cigarro. Respirou fundo a fumaça para dentro dos pulmões e soltou aliviada, ela teria um local para dizer que era seu e que lhe traria muitas alegrias. Mudanças são necessárias e saudáveis. A vida dela agora teria um forte.

sábado, 4 de julho de 2015

João, Vitor e Prosa.

Parte I : Folhetim
Ela estava cansada e impaciente. 
O namorado havia saído para comprar algumas cervejas fazia alguns meses e não voltara nem para se despedir e foi ali, folheando um jornal do dia anterior, à procura de uma distração que nos classificados encontrou anúncios de alguns acompanhantes para mulheres. Sorriu. As descrições eram cômicas: "19cm de puro tesão"; "chocolate bom de cama"; "viril como você nunca viu" ... apenas um deles chamou realmente sua atenção: "Quero conversar com você e tentar te entender, quero me estender e te satisfazer. Mr. Toy (xxxx-6528)". Era o tipo de anúncio que despertava a curiosidade de sua clientela, não havia descrições físicas ou mais detalhes, apenas uma pequena poesia envolvente e que despertou na nossa personagem, uma vontade louca de ligar e contratar os serviços do rapaz.
Parte II : Like a virgin
O celular já estava em sua mão antes mesmo de cogitar não fazer isso. Discou e pensou: É da mesma operadora mesmo, não tenho nada a perder, só minha curiosidade. Quando o homem no outro lado da linha atendeu, encabulada perguntou por Mr. Toy. Na mesma hora, o tom de voz adquiriu um ar sensual e a prontidão do atendimento se apresentou. Perguntou seu nome, sua idade e o que pretendia com a aquisição do serviço. A garota se sentiu como uma menininha de quinze anos, que recém iria ganhar seu primeiro beijo, tremia e gaguejava o tempo todo. Experiente, Toy compreendeu a situação e logo propôs um encontro para negociar o trabalho.
Parte III : Cerveja e trova
Em um bar conhecido da cidade marcaram de se encontrar naquela noite para então negociar o trabalho. Ela não sabia como ele era logo, não poderia o reconhecer quando chegasse. Para resolver o problema, haveria uma mesa em nome de João Palhares. Ela já o aguardava quando um homem fixou os olhos nela desde a entrada do bar. Tinha que ser ele! Era o seu tipo de homem preferido, em todos os sentidos. Chegou até a mesa e perguntou se acaso ela estava esperando João Palhares. Ela acenou positivamente com a cabeça, seu rosto queimava de tesão e de vergonha. Ele era um homem estupidamente lindo.
Parte IV : Contrato, folhetim e prosa.
Ele apresentou sua proposta: uma noite com direito à jantar, passeio de carro pelo centro histórico da cidade, vinho e uma bela foda. Parecia tão natural para ele. Me assustava a maneira como ele me perguntava se podia penetrar meu cu ou se podia me engasgar com seu pinto, sem nenhum pudor. Eu não tinha muitas restrições referentes a sexo, e no fim das contas, eu estava louca pra ver o que aquele homem podia fazer. 
Parte V : Finito.
Um grande diferencial do contratado era que ela também ganharia recomendações tais como vestir um conjunto de renda e preferencialmente branco, estar depilada e ter em mãos, inicialmente, 50% do valor pois caso a satisfação não fosse total, não seria obrigada a entregar o restante do dinheiro, era uma questão de princípios, dizia. E assim ela estava esperando. E tudo procedeu como o combinado. O jantar, o passeio e o vinho, pareciam até mesmo parecer um casal apaixonado e jovial. 
Chegaram até o apartamento e começaram uma dança de corpos, gemidos, sussurros e inquietações. Ele sabia o que fazia. Onde colocava cada mão e a boca, a intensidade e a velocidade. Cada golpe friamente calculado para que sua clientela entregasse cada centavo com um sorriso no rosto. Mr. Toy era um homem esperto, vendia sorrisos e sexo por um alto custo, mas sabia como agradar uma mulher e no fim, sempre ganhava gorjeta pela qualidade dos serviços prestados. 
Parte VI : Vapor não barato
Exaustos, tomaram um banho juntos e conversaram mais um pouco sobre a vida e seus dilemas. O garoto de programa, confessou-se Vitor, ter 29 anos e ser um engenheiro frustrado. Disse que gostava mesmo era de trabalhar com o universo do prazer, servir prazer e principalmente o vender. O rapaz quantificava cada gesto. Narrava que cada orgasmo que ele ouve é como um like em seu ego. Questionado pela curiosidade da moça sobre o amor, Mr. Toy disse com todas as letras e um leve sorriso malicioso: Isso não me paga as contas, querida. Meu anúncio e meu corpo pagam. Com isto, entregou o restante do dinheiro e mais uma gorjeta e o levou até a porta.
Em silêncio, caminhei pela rua
desviando das pedras e buracos
cansada do trabalho pesado,
do vazio em meio aos cacos
Pensava que talvez ali,
aprenderia sobre o amor
pobre Aurora, sempre sofre
caiu em um conto de trovador.