quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

cinco

Aurora em suas crises existenciais, regadas a cigarro e malte destilado, pensou uma ou duas em vezes em suicídio. Pensava em algumas maneiras, simples ou não tão, de fazer o ato com maestria e perspicuidade. É que na realidade, suas mortes sempre estiveram arquitetadas. Uma morte à tiro. Clássica. Muito sangue e um furo certeiro, no meio da cabeça. Outra forjada, de atropelamento, mas esta era um pouco mais complicada, precisava de um álibi. Quem sabe, morrer de tédio? Um daqueles domingos entendiantes observando vidas patéticas em um programa de auditório. Pensava até mesmo em se jogar de um prédio ou ponte, mas tinha medo de altura. Por fim, queria mesmo é que alguém a matasse de prazer. Quem sabe assim, reencontraria o sentido de sentir e pudesse pensar um pouco menos para viver as outras duas vidas que lhe restavam. 

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

veraneio

De mil abraços, ternos e de afagos
Escolhes o meu para te completar.
De mil olhares, tímidos e sinceros
Escolhes os meus para te encarar.
É que das mil pessoas que conheci
Você me tirou pra dançar.
É que a vida tem dessas mil coisas
Encontrar e desencontrar, amar e desamar.
É que de vinte e poucos verões,
um deles estava reservado para se apaixonar.
É que um amor desses é de passagem
Vem e quase nunca, chega pra ficar.

domingo, 18 de janeiro de 2015

Aurora não estava muito satisfeita com sua vida; uma das poucas coisas que ainda gostava de fazer, sem dúvidas, era sentar no computador e escrever a coluna de um blog que falava sobre cinema e música. O blog não era importante e muito menos famoso e nem rendia nenhum dinheiro aos seus colaboradores. Era apenas um hobby
Certo dia, escrevendo sobre um álbum novo de uma de suas bandas prediletas, resolveu falar uma pequena anedota apaixonada sobre seu primeiro contato com a banda e com o amor. Escreveu um ou dois parágrafos sem rimas ricas, sem prosas e coisas muito elaboradas, narrando sobre uma noite qualquer. 
Não bastou muito tempo após ter de fato publicado o texto, reparou que os comentários e a recepção não da crítica do álbum, mas sim de sua pequena anedota foi gigantesca. Elogios pela bela poesia inflaram o ego de Aurora como deverás não acontecia e até um sorriso meio torto e enferrujado a Dona abriu em frente ao computador. Estava flutuando. Alguns dias depois, os acessos já ultrapassam os cem. E um comentário anônimo chamou sua atenção como nenhum outro:

- Aurora, é belo ver que se tornou essa mulher tão cheia de intensidade que só não é capaz de cativar a todos, mas de apaixonar também. A saudade de você é tão forte que chego a sentir teu perfume passeando pelo quarto mesmo depois de tantos anos sem o sentir de verdade. Com certeza de tudo isso, o que fica é saudade de ouvir essas músicas com você. Grande beijo. 

De imediato, Aurora lembrou de um nome e um rosto. Mas negou para si mesma que podia ser o mesmo gajo da história que narrou no blog. O tipo, era um rapaz que dizia para Aurora que sua sina seria apaixonar as pessoas. Aurora não era um tipo de mulher de muita beleza exterior, mas quem a conhecia era cativado pelo seu jeito doce e grosseiro de ser. Era uma mistura de tudo que há de bom com alguns palavrões. Talvez essa mistura fosse o segredo dessa intensidade.
Aurora ficou tão indignada em função de um comentário de tal magnitude estar no modo anônimo que em seguida, se dirigiu as configurações do blog e retirou a opção "comentar anonimamente", para nunca mais correr o risco de perder de vista uma saudade como essa.