segunda-feira, 13 de abril de 2015

Psicanalise

Aurora decidiu ir à um psicólogo depois de longos dias com crises de choro. O nome dele era Carlos. Não era velho e nem novo, mas tinha algumas boas rugas na testa e nos olhos. O médico era do tipo analista, o que já incomodava e muito nossa personagem que odiava passar por situações onde sabia estar sem analisada. Depois de algum tempo conversando, o médico deduziu que Aurora podia estar depressiva. Grande novidade, se você é um leitor das anedotas de nossa personagem já devia saber disso há tempos. O problema é que não era uma metáfora para dizer que Aurora estava muito melancólica. 
Aurora foi diagnosticada com um distúrbio afetivo patológico e foi encaminhada para um psiquiatra para ser medicada. O outro médico era ali no prédio mesmo, mas no térreo e por coincidência e diga-se de passagem, uma danada sorte, Aurora conseguiu um encaixe para a mesma manhã. O nome deste era Mario, e não façamos piadas sobre armários, porque a coisa estaria ficando pior. Mario era recém formado. Era bonito e tinha um sorriso meio amarelado. 
O laudo do médico foi uma depressão aguda e uma boa receita com alguns medicamentos para ajudar com a terapia. Aurora largou a bebida e o cigarro de vez e adotou para si um diário, não para escrever somente o que fez durante o dia, mas para dar metas para seus dias. Parece que se sua vida tinha um objetivo diário, ela passava a funcionar um pouco melhor. 
Aurora acordava todos os dias às oito da manhã e fazia seu café. Uma caneca, sem açúcar. Escova os dentes e tomava seu banho. Penteava os cabelos e se perfumava. Sentava na escravinha, tirava o diário da gaveta e escrevia alguma frase motivacional para o seu dia e o guardava. Tomava cinco compridos e ia trabalhar. A vida rotineira de Aurora agora minuciosamente registrada e analisada não havia mudado em muita coisa, talvez um pouco menos de ansiedade e algumas horas de sono à mais, mas a vida, parecia a mesma.