segunda-feira, 30 de maio de 2011

Em primeiro lugar, quero desejar Feliz aniversário ao blogueiro/amigo/irmão Gustavo Paiva (http://contemporanizando.blogspot.com/) que hoje faz 19 anos! Homem maduro, gentil e sincero. Que você viva muitos anos encantando a todos se não com seus passos de balé com tua poesia meu grande melhor amigo, amo você, feliz aniversário (:

PS: o texto não tem ligações com ele ok? rs

Dose de rancor
Acendi um cigarro, coisa que não fazia há anos, me coloquei sentada no mesmo lugar de sempre na cozinha e onde, normalmente, eu colocaria a xícara de café, estava uma dose de whisky. No rádio, uma melodia que cantava palavras que descreviam minha história, ou o que restava da nossa história. Amantes insaciáveis. Foram juras de amor que não cabiam em palavras, gestos ou calores. Foram meses intensos que iam desde simples trocas de olhares a distância até noites tão próximas que chegavam a fundir a carne. Era amor, na teoria. O som muda como passos de um som que soava a bebedeira e longas noitadas. O jazz da moça que tinha a voz arrastada me arrastava para a quarta ou quinta dose do destilado. Não existiam mais lágrimas para implorar o amor ou sangue puro, já percorria em mim uma  concentração razoável de destilado. E as palavras das músicas soavam perfeitamente ao fim do conto de fadas. Eram versos clichês que fritavam meus olhos, e as ofensas a ele e toda sua geração. Era mista de remorso, paixão louca, ainda sim prefiro dizer que era amor, um pouco mais intenso, diga-se de passagem. E a cada copo, uma dose de rancor e mais bebida brotando no peito. Já não estava em mim, já não era dona dos meus atos. Levantei fui até a pia, ansiando, frustrada, olhei para a faca, e pensei em brincar com ela, com ares de louca, até vi meu sorriso refletido no aço, mas refleti e pensei que não valia à pena, não mais, talvez antes, mas naquele instante não, larguei e voltei para mesa. Mais uma dose, me lembrou do lugar da nossa primeira vez, mais outra da vez que eu o perdoei em seguida uma quente e lembrou-se do primeiro ‘eu te amo’ que ele pronunciou. Lembro que nesse instante o cd havia acabado, houve um grande silêncio. Zonza e desorientada ergui a cabeça, tirei o cabelo do rosto, e vi os últimos raios de sol bater no meu rosto. A única lágrima daquela tarde acabava de cair, e o último gole também. O copo iria cair da minha mão, fazendo com que os cacos de vidros e o malte se espalhassem no chão, uma pontada forte na cabeça indicava que a bebedeira havia passado dos meus limites, e a dor que continuou insuportável fez que com um reflexo sem coordenação eu derrubasse a garrafa bonita também. Lembro da imagem da janela que me trouxe tantos planos aos poucos escurecer e sentia meus braços escorregando pela mesa. Por mais que lutasse me vi caindo em direção a todos aqueles pedaços de vida que estavam no chão. Minha dose de rancor tirava aos poucos minha vida, iam penetrando e deixando todas as histórias, os cafés no chão de pinho, da que um dia ia ser nossa casa. Sentia uma dor insuportável, e uma vontade demoníaca de gritar por ajuda, mas era tarde, estava sem pulso, estava sem fala, sem coração, sem sangue e sem ar. Foi meu fim, foi assim que por amor, involuntariamente eu morri.

Ana Siqueira – 31 de maio de 2011  

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Um ano de blog!!!
Parabéns para vocês que lêem, a poesia livre agradece!
Muitissimo obrigada! (:



A estrela que escolhi não cumpriu com o que pedi, e hoje não há encontrei;
o teatro mágico - não há de ser nada.


Entre sonhos e luzes;

                E toda as vezes que a sua paz de espírito se dissipava,  ela subia no topo de sua casa para refletir, chorar ou até mesmo, em último caso, pensar. Era ali, que nasciam as mais belas e apaixonantes poesias, ou também os versos mais chorosos que ela fazia. Era de uma mochila pronta munida de lanterna, caderneta e caneta, um livro de Bandeira, sua máquina fotográfica e seu rádio de pilha que as noites se arrastavam no telhado da casa, nesses dias gelados, ainda acompanhava uma garrafa térmica com café. E mais uma briga constante consigo mesmo se travou naquela noite. O amor que tinha no seu coração deixara a pobre criança em estado de choque; assim não compreendida esperou. Quando o sono caiu sobre todos da casa, enrolou o cachecol vermelho xadrez no pescoço, e tratou logo de sair nas pontas dos pés, pos a escada e subiu. Geava, e a temperatura baixava a cada minuto. Sentou-se, jogou a mochila de lado, pegou uma manta e colocou sobre as pernas e ficou a olhar para o nada, talvez horas ou apenas minutos. Quando num piscar de olhos reparou o céu, e o viu como todas as estrelas do universo pararam para olha-la. Osfuracavam o brilho da noite, e pintaram todo aquele manto azul. E ela se pegava perguntando qual a mais brilhante, onde estava o cruzeiro ou as Marias, até que uma pequena e comum lhe chamou atenção e fechou teu sorriso. Era pequena e quase imperceptivél, sem brilho e forma, excluida de todas as outras, bem mais longe de todas as outras. Ali se passou tudo, a prosa dos olhares das duas foi intenso, foi a rima mais bem feita, a música com melhor harmonia e dizia, que tudo que te faz bem deve ser feito. Ela por instantes exitou, e deitou-se no telhado sentindo-se talvez ausente, ou talvez apenas com frio e teu instante de silêncio se cortou com um feiche de luz no céu. Sim, era uma estrela cadente, aquela amargura do peito, brotou o sorriso e a lágrima mais sincera. Assim, a estrelinha dizia, aceita teu coração, e outra caiu, vive o que ele manda. Chorando em prece, pediu a estrela fé e coragem, por que só isso bastava e lembrou do teu amor, despediu-se da aurora, e da última das estrelas que cairam, fechou a casa, a porta e a feição. Colocou sua roupa para dormir, deitou-se agarrou-se a pelúcia, e sorriu novamente, e lembrando da estrelinha que não caiu, que não se fez diferente ou mais especial que as outras disse em tom baixinho: - Meu amor? traz para mim. E mesmo sabendo que nunca mais ia revê-la, acreditou.

                                                   Brilha onde estiver, 
faz da lágrima o sangue que nos deixa de pé;

Ana Siqueira - 7 de maio de 2011