domingo, 29 de dezembro de 2013

com que me despeço? 

com dor ou alegria? creio que seja difícil ensaiar uma despedida, principalmente quando ela dura um bom tempo. creio que 365 dias é muito tempo. difícil se despedir de tantas alegrias, mas é com grandiosa ela que me despeço das tristezas. uma vida inteira é um ano inteiro, um minuto inteiro. doloroso, mas cheio de alegria, como criar laços. 

terça-feira, 17 de setembro de 2013

- primavera.

Era feito amor de primavera aquela saudade
como um furacão, arrasando as flores
flores desnudas e  escravas das abelhas
que furiosas e sedentas penetram o mel. 
Enquanto ouço Chico, lamento a saudade
das risadas e da ciranda de quando era criança e não tinha vaidade
era puro feito lírio branco, pequeno como pardal
as mesmas flores do jardim escravo do amor e das abelhas
que não cuidam caminhos e estradas
só embelezam a vaidade dos meus olhos, 
e particularmente, dos seus olhos. 

domingo, 11 de agosto de 2013

Outro dia desses eu estava tomando uma caneca de café sentada na poltrona velha olhando pela janela. Me lembrava a todo instante do sentimento de posse que eu tinha sobre você. Me lembrava dos desejos insaciáveis de coisas absurdas que você se matava para sanar e se, por ventura, não o fosse, se culpava e se desculpava por não ter feito. Eu não sei o porquê estou aqui escrevendo isso, acho que é porque de posse passou a parto. 

Sabe que a dor do parto é dolorosa, e cabe ser redundante neste momento pois se torna recíproco. O parto é quando ocorre o corte, involuntário. Meu café já esfriou e eu me pergunto, se o porque que estou usando está certo. Metade de mim aceita, outra metade expulsa. Parte quebra outra dança. A posse se passou em parte, o parto particularmente, ainda dói, mas com ares desatentos de uma velha, uma velha chaleira que ainda tem água quente. 

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Xícara dobrada.


          Este rosto que me espera para um papo não parece padecer por desgosto nessa mesa junto a sua xícara de café amargo. Em um passe de mágica me vejo acompanhando ele na mesma amargura, requentada, mas fria. Seu olhar me persegue desde meu chapéu até a ponta de meu sapato camurça surrado pelo asfalto. Deixo claro aqui que as rugas que eu via naquele rosto ranzinza me lembravam a de meu pai e os lábios eram os de minha tia Glória, sim, minha tia, o rosto dele ou o meu não lembravam as feições de minha mãe, talvez o peso lembrasse. Quando me curvei para reparar nos seus flácidos glúteos que travavam uma briga para permanecer em cima da banqueta, ele se curvou junto franzindo a testa, o nariz e os lábios, não me questionando como, parecia se irritar com meu gesto e assim ficou.
         Da mesa lhe subiu a xícara de café junto comigo até a boca, o aroma nos enfeitiçava, por mais que fosse velho, era café de história servido às 16h de um dia comum, com sol, com crianças nas ruas e velhos nas praças, pessoas nascendo e morrendo, e aquele senhor diante de mim, parecia fritar-me. Pensei que ele podia não ter se importado com minha pessoa ter se juntado a ele para a pequena pausa, mas me embaralho e derramo café sobre a calça de alfaiataria que tinha desde os tempos áureos, quando volto meus olhos para o velho, me vejo no espelho, maltrapilho. Não aceitei minhas rugas me reinventei em alguém que não existia e só assim percebi que não havia xícara, café ou outro senhor. Apenas eu e meus calos.

quinta-feira, 30 de maio de 2013

“Na contra mão do espaço e tempo”

Agora que estou surdo
Tudo fica mais calmo
A maré do trafego dos carros
O cacarejar frenético das buzinas
Os macacos selvagens que pulam de arranha-céu em arranha-céu

Sou uma pedra estacionada ilegalmente em um cruzamento

Felizes são as pedras que são surdas
E as arvores que são mudas e paralíticas...

Agora que estou mudo
Tudo fica mais fácil
Enfrentar a maré do trafego
Suportar o cacarejar frenético
Insultar os macacos que pulam do arranha-céu

Sou uma nuvem presa em um congestionamento

Felizes são as gotas que nunca caem solitárias
E os trovões que se fazem escutar mesmo distantes...

Agora que estou cego
Tudo fica mais claro
A morte enfrentando a maré
A surdez suportando o cacarejar
O silêncio insultando os macacos

Sou um cometa parado no acostamento pedindo carona

Felizes são as estrelas que se acham eternas
E o universo que se acha infinito...
Thiago dos Santos Andrade


Thiago Andrade é estudante de psicologia, um pouco poeta, um grande amigo e um músico excelente. Uma de suas lindíssimas músicas pode ser ouvida aqui no blog. A Faixa 14 dessa playlist é de sua autoria. Vale a pena ouvi-lo e compartilha-lo! 

quarta-feira, 8 de maio de 2013



"agora caiu em um misto de saudade, de lá e de cá, das poucas poucas horas que restam, que vivi e que vou viver. o que consta é que existe e por esse motivo, dói".

Saudade que vem de cá pra lá
De horas batidas e moinhos que giram sem vento
De idas e vindas, quedas e copos
O que ainda existe, é sombra.
Sombra de dúvida e a sobra de saudade
A borda da pizza e a espuma da cerva
O que afunda é a dor, de outrora de cá
E o que me faz bem?
Olhar retratos de lá e cá
Dos sorrisos tortos de fechar os olhos
Das bobagens que caíram por terra e chegaram ao limite.
O que ainda insiste, é sombra
Sombra de dúvida e a sobra de saudade
E só respirar e voar, pra tudo voltar de vez
A rotina, a letra e o tom
Cada qual em seu verso sem horas
O que ainda persiste é...

08/5/13

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Carta-ata.

Carta-ata de número 008.
Atada em abril de 2013.

Registro aqui meus sentimentos e minhas vontades. Queria te dizer, que fico na vontade de concretizar minhas certezas, porque antes de razões, são sentimentos e estes não podem ser medidos ou descritos, sei que é confuso, mas assim é que se apresentou para mim, e agora, logo, para ti. Deixem minha liberdade poética para descreve-lo. Acho um tanto quanto intenso e inocente, por mais que seja constantemente incontrolável e súbito. Queria também constar aqui que é belo e puro, talvez um pouco puto, mas bem pouco. Minto. Seria mentira dizer que não estaria mentindo afirmando a afirmação que disse acima desse escrito. Eu queria deixar claro também que estou brincando com os sentimentos, mas que não é maldade, é que é doce, que nem bala de morango. Que o cheiro é de café fresco, feito em brasa morna pela manhã e que o silêncio das noites do teu lado é que nem grama recém-cortada. Queria por fim, dizer que é na beleza das palavras miúdas que transformo as coisas mais valiosas que sinto em objeto de valor, pura poesia, uma carta sem sentido, mas sobretudo, uma carta de amor. 

Te amo.


PS: Bem querer que me quer bem, um a um enquanto durar, oito meses de pura alegria, te amo Rodrigo.

terça-feira, 26 de março de 2013

Vai me por no colo feito neném
Vai me embalar
Vai cantar as mais belas cantigas de amor
Vai me levar pra valsar 

Quando meu sonho chegar
Não me pare de embalar
Pois ali no teu aconchego
É onde quero estar

Doce sono esse
Colo quente e confortante
O sonho é uma doce brincadeira
Que não se acaba nesse instante. 


Eu não sei rimas ricas, brincando saiu isso. Mas é de amor, de afeto.

sexta-feira, 22 de março de 2013

            Eis que me sento e olho para a televisão daquele bar. O jogo de futebol reprisado, o cheiro de nicotina, o cenário era sépia. Mesas de sinuca tortas, homens bêbados e febris de cansaço da vida, do trabalho, do amor. Era terrivelmente sujo observar aquela cena deprimente, me virei, olhei no fundo dos meus olhos no espelho que refletia as garrafas de bebidas, cada qual no seu lugar e cada uma com seu interior mais apetitoso. Acordei de um transe e perguntei se podia acender um cigarro, afirmando com a cabeça o garçom pergunta o pra beber, me viro pro nada de novo e peço um uísque, sem gelo. - muito forte para uma menina nova que nem você, não? Eu sou intensa, senhor; meu uísque. 

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Minuciosamente cada detalhe foi anotado em um diário. Seria o crime perfeito, era agendado para ser. Seria pego de surpresa e morto lentamente pelas mãos das duas. A dúvida estava entre uma segurar e a outra matar ou a outra matar e uma segurar. As duas sentiam e as duas queriam o fim dela. Não existia mais espaço para esse triângulo.

Após muita discussão, decidiram: ao mesmo tempo. A morte ia ser instantânea e ao mesmo tempo degustada - Vão nos prender como psicopatas - ironicamente. Era doente mesmo, era falta. 

Chegou e caiu a noite. As duas se ligaram e decidiram onde iam se encontrar para executar o crime. O único lugar iluminado da rua. Se viram, sorriram. Abraçaram e o crime aconteceu, a saudade morreu. 

para a irmã mais nova e mais alta. 

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

coisa de menina.




Os olhos da menina brilhavam ao olhar para cima. Todos eram altos e felizes. Menos a pequena, pobrezinha. Ali ela sonhava em saber como era a vista de cima, e viaja, para o alto das nuvens onde não as via nos olhos. Via e não, os abraços, os beijos e os apertos de mão. As crianças lá de cima eram mais fervorosas e sonhavam em crescer. A menina só tinha uma flor, sua flor. Ela bailava com ela.

Sua flor era amarela, sorria para ela e vice-versa. Iluminava os olhos dela, que não viam o fervor da sua cor, era só tato amarelo, talvez. Era uma criança nem tão comum, mas criança. Sonhava em amar, dançar, beijar e apertar as mãos das outras pessoas. Mas só sonhava.

A flor ficou menor que o braço, logo depois menor que a perna e assim, ficou no chão. Deixou de sorrir, e lá em cima, um pouco mais sozinha, viu que os homens grandes não sorriam tanto, não brincavam tanto. Não tinham uma flor e nem sequer viam o amarelo. Lá, o mundo dos altos era cético e amargo. Queria ser criança com flor, era tarde, cresceu, acordou.