domingo, 7 de outubro de 2012

Há muito eu não pensava assim. Há muito eu não sentia assim. Eu não sabia o que eram essas coisas de verdade, eu só achava que sabia. Eu fecho os olhos e abro e essa coisa não desaparece, percebo, é verdade. Sem provas, só existe. E é lindo, forte, terno.

Café? para os dois, com afeto agora.

domingo, 30 de setembro de 2012

Aos amigos Ana Lúcia, Brena, Cidinha, Cibele, Aline, Letícia, Clécia, Douglas, Brenda, Kelly, Diana, Nelson, Gustavo, Vinícius, Rodrigo, Celismar, Gabriel, Tamires, Luiz, Lívia, Adrian, Guilherme, Othon, Tomita, Lucas Freitas, Jéssica, Geisa, Lucas Marco, Thiago Cruz, Thiago Andrade, Lucas Fernando, Elison, Anacleto, Flávio, Gabriele, Helder, Ricardo, Cássio, Jaime, Pe. Thiago, Hugo, Kaona, Alisson Gabriel, Alisson, Mayara, Igor, Danilo, Lucas Adriel, Max, Jefferson, Karina, Joara, Rosiane, Leone, Ana Flávia, Eddy, Polli, Mateus Marcos e todos demais que fizeram parte das minhas férias ! 

F O T O M A N I A 


Cheguei! Mas na realidade, não. Se passaram dias e dias, cliques e cliques, boas recordações. Eu vagarosamente munida da minha câmera passeei por um bom tempo clicando as coisas e as pessoas, era divertido. Bonitos sorrisos e rostos trancados, fotografei de tudo, fotografei vocês. Olha só, o sorriso da fulana, vou olhar pra essa todo dia e lembrar das gargalhadas dela, vai me animar. Olha a cara de sério dele, vai me lembrar de como ele ficava bravo quando eu falava algo que o repreendia. Meu Deus, como ele bebeu! Lembra desse dia? Tomamos um porre. Olha essa lembrança? boa, vou revelar. Lembra esse dia? quero mais cem iguais. Percebe essa fé nos meus amigos? Sim, essa mania de ter fé neles, de acreditar hoje neles, no sorriso, no riso, no choro, na mágoa, nessa fotografia deles. 
Sabe essas fotos? Antes de aqui, nesse texto, nessa máquina, estão na alma.
Boas recordações, momentos lindos e irrepetíveis. 
Boas fotos, pra vida toda ou até quando revelar. 


Sentirei falta de vocês, queridos. 



segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Sobre voo.



- Os processos estão sendo reiniciados, as boas lembranças e as más na mala, algumas peças foram despachadas dessa aeronave. Alinhando na cabeceira da pista, solicitando autorização para decolagem. 

E concluí o piloto, ainda novato, sobre seu segundo voo solo:


- As reuniões sobre as rotas das respectivas aeronaves desse pátio me farão muita falta comandante.


O comandante concluí:


- Na cabeceira da pista, sempre verifique as superfícies de controle. Procure sempre inibir apenas os alarmes irrelevantes, check e re-check os ponteiros antes de iniciar o roll na pista. Depois da velocidade de decisão, apenas tire o trem de rodas do chão, decole e aprecie a razão de subida da aeronave, até que a mesma esteja voando sobre as nuvens. Um bom voo recruta e uma boa viagem, estaremos aqui no pátio ou nos céus.



( vou sentir sua falta, irmão)

quarta-feira, 19 de setembro de 2012


Olhos azuis,
Venho pedir encarecidamente que te importe com teu sorriso ai, 
que agrada  e muito o comum dos meus castanhos, sabe? Cuide do que ele vê de pálpebras fechadas, cuide do que tu não vai evitar, cuide-se. Promete? 
Até amanha, bom dia.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Rosa, só.

Pra ouvir enquanto lê: Bandolins - Oswaldo Montenegro.

Os olhos se encontraram em meio ao amontoado de pessoas. Os sorrisos se abriram e eles não se desgrudaram em meio multidão, se viram, se apaixonaram. Os olhos se fecharam quando as testas se tocaram e uma dança sem compasso aconteceu, caiu lágrima e surgiu uma flor, era uma rosa, mas não vermelha-clichê, mas sim branca. A lágrima não se conteve, e como num abracadabra, o beijou duraria até o quarto. Suspensos, passearam pela testa, olhos, face e boca, desfilando, era caseiro. Não se conheciam, nem as mãos e nem as coxas, nem os olhos e nem a boca. A luz ia baixando, junto dos mimos. Cada qual conhecendo o sentimento, lentos como água de mina. Não abriram os olhos,  se conheceram como dois cegos, sentiram como dois cegos, curiosos. Já era dia quando acordaram cada qual na sua cama, cada um só, menos a rosa, que nem existiu.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Sabe o ruído da agulha tocando o vinil na vitrola? e logo em seguida os metais rasgando a radiola com um jazz formoso. colamos o rosto e dançamos, um para lá e para cá, bem calmo, no ritmo. piso no teu pé, solto um sorriso, sussurro uma desculpa. tu volta tua mão da cintura pro meu rosto, tira meu cabelo da frente, me olha nos olhos, e volta para o lugar me trazendo para mais perto do teu peito. meus braços envolvem teu pescoço e voltamos ali, para nosso compasso, que não tem fim, que não tem verso, só passa.
Uma tarde nem tão cinza e nem tão amarela de um dia quente e incomum no inverno. As folhas das árvores estavam no chão do parque, e as flores, estavam desabrochando. As estações estavam confusas. E as árvores? pobrezinhas. Quantos amores temporais cravados em seus cascos, quantos beijos trocados em vão por amores que estavam perto do fim ou que achavam que não, como o nosso. O nosso amor começou sobre folhas secas, não é? e no mesmo dia acabou contigo roubando meu pijama depois de eu ter furtado teu sorriso, dançamos esse sonho torto. Ouvindo a caixinha de música, abobados, figuramos horas e planos, até o momento que o sol iria cair, e eu, partir. Era o medo que me colocava numa viagem, e me trazia de volta ao parque, para ver os amores temporais.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

- posso me perder?
- onde?
- aí!
- aqui? 
- sim!
- aqui onde?
- aí dentro.
- por que tudo isso?
- porque tu, agora, existe.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Cíclico.

resolvi me sentar aqui hoje para escrever sobre como estou apaixonado e em verdade, como me sinto feliz. escrevo mil versos de amor, escrevo rosas de sangue e de ternura, escrevo cantos de dor por não ter quem ouça meus lamentos, escrevo por amor, sobretudo. eu costumava ter certeza e me entregar as cores que a vida adquiria com isso, eu costumava borboletar dentro de mim e de ti, lembra? lembro como te servia o café e me sentava aqui, na mesma, para tentar te escrever apaixonado. 

-

agora não há mais amor, nem café quente. de improváveis amores e poemas apaixonados, restou papel queimado e cinza. acendo o cigarro, troco a xícara por um copo com gelo, malte e feridas descem garganta adentro. penso em me vender, quem sabe, com o dinheiro eu compre um amor, ou mais bebida.

-

bem, de fato, estaria melhor se não cruzasse com teus olhos e resolvesse me sentar para escrever o quanto eles me encantam e fazendo as contas, prevendo o dinheiro que gastarei ao comprar flores e logo depois bebida, para que esse meu peito continue batendo. mais um café, mais uma noite adentro. apaixonar é deixar viver.

sábado, 18 de agosto de 2012

Eu não sei o que é, mas é;

Para ouvir enquanto lê: http://www.youtube.com/watch?v=1MwjX4dG72s

a parede, o trem e o mar.
já eram 4h39 da madrugada, quando resolvi deixar de ler as suas cartas e tentar dormir. ao encostar a cabeça no travesseiro e me virar de lado abri um sorriso ao pensar que encontraria um sorriso torto junto de você, que já teria adormecido, todavia, para minha decepção, dei de frente com minha parede amarela, e ali, mais que concreto, achei um profundo vazio. até fechei os olhos e meditei, mentalizei, tentei te materializar, mas foi falho. me cansada da parede, me virei pro teto. ah, o teto, esse é branco, mas estava escuro, a luz do quarto estava apagada. olhando ele ali, lembrei de sorrisos, abraços e gestos, que passavam como fotografias de você, desses momentos que na realidade nunca vivemos. engraçado te sentir tanto em tão pouco, sem ao menos você existir, porque pensando assim, você não existe. sabe o mar? sim, eu sei que mudei de assunto. o mar me lembra das coisas que você me disse ontem, as poesias, as músicas, a nossa dança, de pisar na ponta do teu pé e tu me conduzir uma valsinha que palpitava no nosso peito sem pudor, sem pedir permissão. vi nosso vídeo no teto. o meu sono tinha se esvaído, e peguei com pressa uma folha de caderno e um lápis, ali rabisquei uns poucos devaneios sobre isso tudo, meu pudor não deixava te chamar amor, mas meu coração assim pensava, uma briga entre lápis e coração, e agora, com a luz acesa, vi tua foto, que não existe, na minha escrivaninha, meu sorriso torto, parecido com o teu, mas pro lado direito, se abriu como o som do jazz. parece que te fiz sentir 'isso'. não sei como, mas dê uma forma ou de outra, sinto que você veio e se sentou do meu lado nessa viagem de trem, e com um 'posso me sentar' pediu com encantamento para se sentar. os rabiscos na folha, já a ocuparam inteira, e a hora já acordava o sol, era um novo dia, esperando a noite, para deitar ali, virada para a parede e depois para o teto. para reviver as lembranças que não temos, e conversar com você, talvez, se nos perdemos de novo. 



(não se sinta amado, a não ser que queira, essa vida, é cheia de danças e quem sabe numa delas, a gente não se esbarre e fique calejado de valsar? tudo tem propósito e tempo certo, fique bem).
perdi o meu anel no mar, 
não pude mais encontrar (...)

e eu diria:

E o mar, em troca,
trouxe um amor pra me dar.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012


pensa no sorriso? abra-o! Muito, deixa ele vir curvar de orelha a orelha, até doer as mandíbulas, agora, feche os olhos. feche-os como se fosse para sempre. abra o coração. está aberto? respire fundo. Sente? estou aí, estava quieto, mas acordei. os ares gelados se confundiram com a maresia. o café está sendo requentado como o coração. não desfaz o sorriso e nem a canção, porque o ócio, esse já vem.


domingo, 29 de julho de 2012

Diálogos de Carne;


Os corpos quentes e ainda colados sussurravam entre bocas e beijos, frases e ditos, cheios de carne e paixão, era somente fogo, era a única certeza na cama.
- Você tá perfumado.
- Você gosta?
- Me instiga.
- Eu te instigo?
Gargalhada tímida.
- Teu perfume – depois de uma breve pausa – Gosto de te abraçar forte, sabia?
- Por quê?
- Dá pra te sentir mais perto, mais meu.
- Teu abraço me instiga.
- Mais que meus beijos?
Os olhos se fecharam e a respiração ofegante sentida no rosto um do outro indicava o indício que os lábios se procuravam. E depois de um labirinto percorrido se encontraram e permaneceram ali.
- Eu sinto tão algo forte quando você me beija assim.
- Eu também.
- Não deveríamos sentir.
- Sentir o que?
- Eu não sei.
- Quem sente?
- Eu não sei.
- Vamos parar de sentir?
- Eu não quero.
- Quem quer?
- Nós dois.
Inflamados, os corpos de carne se tornaram brasa. Não se sabia o que se sentia, mas parecia que não ia ter fim e parecia fim. Algumas horas depois, o calor daria lugar a um frio, e os braços o calor de menos quentura.
- O que a gente tá fazendo?
Não soube identificar qual dos dois corpos dissera frase, mas ouviu e se fez silêncio.
- Você me instiga.
- Teus braços me instigam.
- Para um caso carnal, estamos sentindo demais.
- Sinto muito.

29/07/12

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Ando com medo. Ando com muito medo do escuro. Vejo ele em tudo o que vejo. Minha sala está escura, está inquieta. Ando choramingando sem motivo por aí. Ando com um aperto. Será que ele me olha? Será que ele está? Mas eu nem sei o que é, como estaria? É uma nuvem escura que eu temo que apareça, ou é branca? ou é luz? Eu sou luz. Vê minha luz, eu não devia temer. Mas olho o quarto, apagado, embriagado, sujo. A poeira é penumbra de uma coisa que ainda não vi. Ando com medo do escuro sabe? Ao sair do quarto, o corredor, e uma luz no fim dele, ao maior reflexo me viro assustada e, e enfim, a cozinha escura. a janela  de vidros embaçados por causa da temperatura, a meia luz vinda do vizinho e folhas e galhos que não param de se mexer. Fico tensa. Abro a geladeira, encho a caneca de leite e volto pro quarto. Parece que ali, embaixo do cobertor é estranhamente seguro, mas ainda sim, a luz está apagada, ainda sim, ando com medo, ando no escuro. Tenho medo do escuro.

sábado, 2 de junho de 2012

não é carta de despedida;
(para minha família do sul)



         Parece carta de despedida, mas é cheia de sorrisos. E quanto riso, boas coisas e dias bons de se lembrar. Eu sei que volto, eu sei que os sorrisos irão sim se repetir muitas outras vezes e de muitas formas diferentes, mas esses são especiais. Olhando aqui de cima, as nuvens e vocês, e cada forma que a gente se abraçou e cada coisa que a gente já passou, e cada coisa que a gente chorou e o que a gente lembrou, parece despedida, mas não é. Ficam as coisas boas, ficam os momentos, lembra da escada? Lembra do sol? Lembra da grama? Lembra do céu azul? Eu me lembro. Como se fosse hoje, cada coisa boa. Mas eu volto! Promete não apagar a luz? Deixe a chave embaixo do tapete e o café velho na garrafa pra eu chegar e requentar? Requentar todas as coisas boas, revivê-las naquele aroma velho, de café requentado. Ele traz afeto. São como duas coisas distintas. Mas preciso pegar o trem, me espera na próxima estação ? quero ganhar teu sorriso abraço na parada. Lembrar de cada chegada que é novo fim, não? Promete aguar as bromélias? E as margaridas? Elas não gostam de café, cuidado com os espinhos das rosas nos teus pés e lembre-se, do lado esquerdo é que guardamos as flores, as dores e os amores e claro, os abraços. E as cartas? Não se esqueçam de coloca-las no correio, o mais rápido. Elas voam, o tempo voa, vê? Já é de novo o novo! E o frio? Coloque-o no refrigerador, para que não fique doente. Seja feliz, sorria como se tivéssemos dito algo bobo. Tropece, como eu tropecei, viva uma aventura. Seja feliz, seja sorriso. Pegue o ritmo, vamos, não é despedida. Mas é carta, eu acho. O sol tá no meio do céu, e a vida? Essa tá no meio da gente. Olha nosso reflexo na vida. É muito abraço, é muito curto. Viu meu endereço? Me visite, sorriso! Não fique aí. Tem café, fresco prometo, pro irmão. Tem chuva de bolinho para saciar uma fome que a farinha não faz. Tem xícaras vermelhas e azuis para agradar a família. E uma branca. Sabe porque da caneca branca? Porque ainda tem muita história pra contar, muito café pra escrever, muita vida para requentar. Saudade daqui e de lá. Café de lá não como aqui, e versa-viça. Preciso encerrar. Triste fim? Não tenho certeza! Acho que recomeço feliz, que vida feliz. Lembre-se, nada de despedida, peça a próxima pedida, seja carta, música ou um copo com pinga. Finja, não vire fumaça! E não se esqueça da Dona do melhor café requentado da cidade, do braço e do abraço, do sorriso e do rio. Não se esqueça dela.

OS: Cartas esperam respostas, bom dia.


terça-feira, 22 de maio de 2012


T a r d i o ;


Abri meus olhos e junto deles um sorriso meio inquieto. Ele era meio tímido, um tanto quanto torto e eu diria mais, diria que muito abestado. Ele passava correndo como os pneus do carro sobre o asfalto e aumentava, acelerava cabeça e coração. Acho que fiquei ali alguns instantes, em transe, ou talvez, algumas horas daquele fim de tarde. O céu, antes e comumente azul, estava parecendo uma aquarela escrita por um poeta importante. Inflava em tons de rubro, incendiava o peito e lembrava dele, deixava também minha face corada. Me deu vontade de subir naquele morro, e sentar do seu lado, pensar nas coisas boas, rir das coisas ruins e porque não te amar? Sem medo, sem tempo, sem fim. Uma tarde cheia de amor. Não queria esse fim, queria até escrever seu nome neste escrito, mas ainda não é tempo, o sol ainda está no meio, quase tocando a terra, mas no meio. Fecho meus olhos, e a noite cai, e junto dela, eu nos teus braços. Boa noite, faltam só algumas rotações.

quarta-feira, 2 de maio de 2012





um dia serei tua, no meio da hora onde a lua brilha como brilha o holofote do show do palhaço. e darei o sorriso, ao saber que és meu também, será amor, verso e brincadeira, felicidade para muitos e muitos cafés, quentes por favor.


para um pequeno grande homem, que me encanta todo dia de uma forma diferente.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

dois poetas bobos
parecem coelhos jogados aos lobos
procurando luz, dentro do escuro poço
procura um pouco de arrepio onde só há osso
uma sorriso em cima do pescoço.
faísca dentre tanto desgosto
Até o sol bater no rosto
Fazer um almoço com muito amor. Sazon à gosto.


e completa: 
Com amor.

Por Jean Wathier

terça-feira, 3 de abril de 2012


Livro azul da Tarde
          De tardezinha, eu sentia o cheiro do café que se espalhava pela casa. O sol brilhava através da persiana  que teimava em não me deixar olhar para ele. Ele ficava na outra janela, oposta a da cozinha. Ele e seu livro, por horas e horas, não se via nem o piscar dos seus olhos azuis atentos, e diga-se de passagem que olhos, nunca mais vi igual. Ao mesmo tempo que o rosto era sério como de um velho rabugento, ficava sereno e de vez em quando, ensaiava um sorriso, e eu suspirava a medida que seus lábios se curvavam, mas era ensaio, logo voltava atento. Dia desses pegou minha vista de cruzamento com a sua, vi uma borboleta amarela que não existia, e segui olhando para ela, acho que na realidade, elas estavam borboletando dentro de mim. Desde então, ele ficava desatento, afim de ver nossos olhares se cruzarem de novo. Outra vez, todo ajeitado para o passeio de domingo com os pais, ficara irritado, por não levar consigo seus livros e uma outra vez, que me coloquei atrás da persiana para espiar aqueles olhos, vi que em lugar de um escrito, ele escrevia. Sim, um caderno. Que diabos, pensei minuciosamente, ele escreveria. Vi ele espiando a janela que supostamente estaria vazia, parecia até procurar meus olhos, ou pelo menos eu pensava isso, queria isso. Por dias ficou na janela com a caneta procurando algo, e de repente, sumiu. Eu chegara a curvar meu corpo para fora e até arriscava aparecer no portão para ver se ele estava pendurado em uma ou outra janela de outra menina, mas nada. Não foi nada, mas me senti estranha. A campainha tocou, e como de costume me dirigi a porta, de cara fechada, pensativa, como uma velha rabugenta, como ele com seus livros. Me deparei com um nada, mas com um envolpe no chão, que tinha minhas iniciais no verso. Um sentimento de estranhamento me envolveu, e eu o tomei, e o abri, e vi uma caligrafia até mesmo complicada de se entender, que traduzia o seguinte verso: Demorei mais de três semanas para conseguir escrever que teus olhos são os mais encantadores que já vi. Me abriu um misto de sorriso e de, de que mesmo? Bem, os meus castanhos não tinham nada de mais, não chamavam atenção, porque azuis se interessariam.  E por dias aparecerem bilhetes na porta, com os mais variados recadinhos sobre meus olhos. Chegava a ser psicótico, se bem que, na época eu não tinha ideia do que isso podia ser. O garoto havia sumido da janela, já não o via tinha tempos, mas os bilhetes sempre estavam lá, não na mesma hora, por dias espionei esperando ele aparecer, mas o danado parecia perceber o exato momento que eu piscaria pra coloca-los lá. Eram olhares de papel. Um belo dia, daqueles que a gente não espera, olhei de relance, e voltei para confirmar. Lá estava ele, dessa vez com um jornal de páginas amarelas, uma camisa branca, o cabelo penteado de lado, e tão lindo como os olhos, foi a primeira vez que olhei para ele mesmo, e parece que essa sensação foi recíproca. Abrimos um sorriso, como eu nunca tinha visto, e que sorriso. Um sinal discreto com a cabeça indicará um pedido para sairmos de nossas casas. Nas pontas dos pés saímos, sem trocar uma palavra, apenas olhares indiretos, e dele junto, um caderninho. Chegamos a uma praça, nos sentamos sobre a sombra de uma grande arvore, que já não tinha muitas folhas, no chão mesmo, onde estariam todas as folhas. O sol caia e a tarde alaranjada apareceu junto de um olá, o suficiente para nos calar por uns minutos, respondi tímida um oi e mais silêncio. Ele era diferente, eu sabia. Ele tirou o caderninho do bolso, e pela primeira vez eu ouvira sua voz claramente me pedindo autorização para me ler uma coisa. É claro que não o contrariei, pelo contrário, incentivei, e disse que estava ansiosa para ouvi-lo, depois de um sorriso reprimido, despencou a ler. Todos os bilhetes que ele havia me escrito, faziam parte de páginas e páginas de uma carta que parecia não ter fim e então entendi, que a demora escrevendo aquelas 3 semanas, não eram por causa de um único bilhetinho, era uma declaração que segundo ele foi fragmentada para me conquistar de pouquinho em pouquinho e então, ele tirou de uma das páginas do caderninho um pedaço de papel de pão que tinha escrito algo como , dona dos meus olhos azuis, esse castanhos fazem parte de mim e não se difundem, se fundem e se partem, parte comigo? Um pedido que fez transbordar nos meus, uma felicidade imensa em forma de água, e daquele dia em diante, até o dia em que ficou comigo, escreveu pedacinhos do que estava nele, para o resto das nossas vidas. De vez em quando, olho pela mesma janela, e espio pela persiana, para ver se o convite para partimos de novo está na minha porta, e espero ansiosa, o dia de rever aqueles olhos que me amaram mais que qualquer toque, palavra ou gesto, os olhos que escreveram e leram o mais belo amor. 

03 de abril de 2012, Feliz aniversário Mãe.


terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

De uma conversa muito, muito distante.
Para o Senhor E.L. 

VARANDA; 

Me coloquei sentada feito criança na varanda da casinha. Meus pezinhos para fora vinham de lá para cá em movimentos ensaiados e descompassados, ora se trombando até. O frio era gelado, era de brisa de madrugada, e tinha fumaça. O coração apertava olhando as senhoras cadentes, será que ele também estaria? A brasa se torna brisa, e em seguida, doença. E vem uma seguida da outra, e a saudade. É uma falta de amor, e um amor que sente falta. Adoece no corpo, transborda nos olhos, sente na calma, no silêncio. Sente? Invente! Tem gente que aparece pra trazer brisa, e questão, como você. A varanda que dava até então vista pra outra casinha, mas de cor amarela, agora dá vista para a tua vista, cheio de ternura. É um colo, um colo que oferece, que cresce e, e o que mesmo? Bobeira cheia de essência, de tratar e contratar. Alugar, estou para alugar, quero um que tome conta, tire as teias e arrume as veias, digo, canos. E Varanda, não se esqueça, sente-se junto ao piso frio e olhe para além, seja bobo, me veja no seu ser não lúcido, ria comigo, passe gelo comigo, seja assim, Varanda de criança. E fique assim, fim.

28 de fevereiro de 2012