quinta-feira, 26 de março de 2015

O amor está morto.

Aurora parou na sacada cinza de seu pequeno apartamento e pensou com seu botão solitário da camisa listrada que usava, se seria sua sina ficar sozinha pelo restos dos dias acompanhada de seus livros, seu uísque e cigarro. Se bem que fazendo contraponto ao próprio pensamento, com hábitos tão saudáveis, e leia-se uma grande ironia esta fala, ela não iria durar muito para viver sua solidão. 
É que Aurora assim como tantas outras, sofreu. De amor principalmente, mas também sofreu com injúrias, lamurias, torturas e assassinatos físicos, morais e psíquicos das coisas que aconteciam em sua volta. Aurora pensava e duvidava da própria fé e do próprio amor. 
E foi em uma das suas indas aquele café da praça que Aurora por um momento, um instante que foi observou uma criança brincando com seu avô. Ambos sorridentes, ambos felizes por estarem ali, vivos e vivendo aquele momento com intensidade. O inicio e o fim. E foi esta palavra que despertou Aurora a observar outros momentos recheados de intensidade ao redor. O cheiro do café, o gosto do uísque, as melodias que o vento uiva nos ouvidos no inverno, a sensação de poder caminhar. 
Quando leu Nietzsche e ouviu sua célebre frase "Deus está morto", Aurora riu para si mesma, e parafraseou o autor: "Não meu caro Nietzsche, o amor está morto", em lembrança a seu fracasso com relacionamentos e uma parca desistência para eles. Hoje, no movimento de perceber a sensibilidade da beleza de estar vivo sendo, dentro das possibilidades, saudável, Aurora escolheu sofrer as dores necessárias para suportar e esperar tudo que lhe fosse apresentado, de forma sensível e humilde. Aurora amadureceu e o mais importante, teve sua fé na vida, nas coisas, no seu próprio café restaurada.