(para minha família do sul)
Parece carta de despedida, mas é cheia de sorrisos. E quanto
riso, boas coisas e dias bons de se lembrar. Eu sei que volto, eu sei que os
sorrisos irão sim se repetir muitas outras vezes e de muitas formas diferentes,
mas esses são especiais. Olhando aqui de cima, as nuvens e vocês, e cada forma
que a gente se abraçou e cada coisa que a gente já passou, e cada coisa que a
gente chorou e o que a gente lembrou, parece despedida, mas não é. Ficam as
coisas boas, ficam os momentos, lembra da escada? Lembra do sol? Lembra da
grama? Lembra do céu azul? Eu me lembro. Como se fosse hoje, cada coisa boa.
Mas eu volto! Promete não apagar a luz? Deixe a chave embaixo do tapete e o
café velho na garrafa pra eu chegar e requentar? Requentar todas as coisas
boas, revivê-las naquele aroma velho, de café requentado. Ele traz afeto. São
como duas coisas distintas. Mas preciso pegar o trem, me espera na próxima
estação ? quero ganhar teu sorriso abraço na parada. Lembrar de cada chegada
que é novo fim, não? Promete aguar as bromélias? E as margaridas? Elas não
gostam de café, cuidado com os espinhos das rosas nos teus pés e lembre-se, do
lado esquerdo é que guardamos as flores, as dores e os amores e claro, os
abraços. E as cartas? Não se esqueçam de coloca-las no correio, o mais rápido.
Elas voam, o tempo voa, vê? Já é de novo o novo! E o frio? Coloque-o no
refrigerador, para que não fique doente. Seja feliz, sorria como se tivéssemos
dito algo bobo. Tropece, como eu tropecei, viva uma aventura. Seja feliz, seja
sorriso. Pegue o ritmo, vamos, não é despedida. Mas é carta, eu acho. O sol tá
no meio do céu, e a vida? Essa tá no meio da gente. Olha nosso reflexo na vida.
É muito abraço, é muito curto. Viu meu endereço? Me visite, sorriso! Não fique
aí. Tem café, fresco prometo, pro irmão. Tem chuva de bolinho para saciar uma
fome que a farinha não faz. Tem xícaras vermelhas e azuis para agradar a
família. E uma branca. Sabe porque da caneca branca? Porque ainda tem muita
história pra contar, muito café pra escrever, muita vida para requentar.
Saudade daqui e de lá. Café de lá não como aqui, e versa-viça. Preciso
encerrar. Triste fim? Não tenho certeza! Acho que recomeço feliz, que vida
feliz. Lembre-se, nada de despedida, peça a próxima pedida, seja carta, música
ou um copo com pinga. Finja, não vire fumaça! E não se esqueça da Dona do
melhor café requentado da cidade, do braço e do abraço, do sorriso e do rio.
Não se esqueça dela.
OS: Cartas esperam respostas, bom dia.
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