domingo, 14 de dezembro de 2014

Hospedeiro indesejado.

Aurora já não suportava a vida na capital. Os carros, as pessoas, os muros cinzas. Tinha nojo de abrir sua persiana e dar de cara com outra persiana. A vida não era mais amarela. Ela sempre quis se mudar para o interior pois, sua vida toda foi embalada por histórias de quem fugiu da vida pacata e tranquila para tentar o sucesso na capital e disso, Aurora não entendia bulhufas. 
Aurora tinha em mente sua casa no interior. Ela teria uma janela bem grande e flores na fachada. Seria de tijolos e de paredes amarelas por fora. Por dentro, teria dois ou três cômodos que lhes seriam suficiente para dormir, guardar suas tranqueiras, vulgo seus livros, e hospedar algum amigo que quisesse também fugir dos devaneios da cidade. Sua cozinha seria grande e teria um forno à lenha. Aurora ria imaginando muitas crianças pela casa e pensava sobre maternidade, daí lembrava que seu salário mal a sustenta e que a ideia de ter filhos, pelo menos por enquanto é descartada. 
Nesses momentos de sonhos, a menina se delícia com uma realidade tão desejada e tão distante. É que enquanto Aurora reflete se abre ou não a persiana de seu quarto, aquela que dá de frente para outra janela, a utopia de ser absolutamente e inteiramente feliz a consome. É que nessas reflexões que percebe o quão o nosso ser é frágil, o quanto nossos dias são curtos, o quanto somos solitários. 

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