sábado, 8 de maio de 2010

Cartas. Bem. Felicidade.

Eu não sei o que havia acontecido conosco. Éramos um casal jovem e cheio de euforia. Beijos e caricias todas as noites. Amor infinito e imprescindível sempre. Agora?! Ás vezes repara. Nem sempre está ‘disposto’. Cansei. Decidi-me. Hoje eu ia por um fim nessa história. Ia por na mesa, todas as cartas sem nenhuma piedade, ia ‘bater’ esse jogo e acabar de uma vez com isso.

Esperar, esperar. Parecia que o tempo queria adiar essa conversa, me aparentava que o tempo tentava me impedir de falar com ele sobre tudo o que eu estava cansada nessa maldita relação.

Faltava apenas cinco minutos, que por sinal foram os mais longos da minha curta vida vivida até agora. Estava cansada, a raiva aumentava ainda mais, a injuria, o sentimento de rejeição. Pensava em cada palavra miserável que ia dizer. Começou a chover. Os raios furiosos caiam para abrilhantar a noite que estava tão escura quanto meus pensamentos naquele dia. Pronto. Agora o atraso dele é iminente. Queria que ele apenas voltasse a ser aquele rapaz que era quando começamos a namorar, realmente ele mudou, para meu sofrimento, para pior.

Fiz um minuto de silêncio, querendo chorar, ouvi um som de um carro entrando na garagem. Era ele, com aquele sorriso que me enganou, aquela boca que me cativou, aquele andar que fez sonhar.

Minha raiva tomou meu corpo, de frente para a porta, uma lágrima minha escorreu pelo meu rosto. A chave virou-se dentro da maçaneta, o barulho do destrancar parecia uma sentença, aquele martelo havia caído. Meus sentimentos se esgotaram. Ele abriu a porta e entrou me dando um boa noite que foi correspondido apenas com um porque. Ele ficou confuso, queria entender a indagação. Quando me virou as costas, soou uma palavra da minha boca que era simplesmente escrota. Ele se virou e indagou o porquê de eu estar daquela maneira. Eu arregacei minhas mangas e tirei delas aquelas cartas, sim aquelas, que a gente sempre guarda pro bem de ambas as partes sabe?! E o meu sentimento foi o de que o mundo caiu no chão, ele ficou paralisado apenas ouvindo em silêncio com um olhar que me dizia apenas ‘raiva’.

Ele então, também tinha cartas no paletó, e as colocou no jogo. Minhas cartas derrotavam as dele, e vice-versa, num jogo que parecia que não ia ter um fim logo. O volume da voz, os gestos todos aumentavam a cada instante. A agressividade entre nós estava prestes a partir pro corporal. Foi então que numa fúria sem controle, fui para cima dele. Um tapa. Silêncio. Ambos estávamos ofegantes, parados, um olhando sem parar para o outro. Eu não queria saber. Os sentimentos de acabar com aquele maldito foram maiores. Voltei pra cima dele. Indagando sempre ‘por quê?’, ‘por quê?’; estapeando seu peitoral que antes me deu tanto prazer. Com sua força de homem segurou meus pulsos e também me questionava aos berros para que todo esse ataque. Sem forças, eu dizia que queria ser de uma única pessoa na vida, e que eu decidi ser dele, apenas dele e como ele me tinha me retribuído. O amor acabou. O fogo apagou. Depois eu só dizia: - Maldito! Porque você fez isso comigo?!

Então parecendo literalmente um animal selvagem, sem pena, meus braços e pernas foram novamente tomados por um espírito maligno. Meus olhos queimavam de raiva. Ele querendo se esquivar sem sucesso. Levou-me para perto de uma parede, me prendendo sem escapatória por cima de si. Ofegando, como se tivesse acabado se afogar nesse mar de raiva, com palavras pausadas e sem muito tom disse que não sabia o porquê, ele não tirava os olhos do meu corpo, eu presa, não conseguia sair.

Nós nos olhávamos sem cessar ambos eufóricos com aqueles olhos com desejo de carne. Eu não me conti, a tristeza tirou a raiva do meu sangue num passar de segundos no relógio. Caímos. Eu em cima dele aos prantos, ele desacreditado me disse com palavras ainda ofegantes em meu ouvido:

- Eu nessa vida nunca tive e nunca terei alguém como você. E se nesse tempo, se não fui aquele namorado cheio de fogo, foi porque esqueci de viver para a minha vida, esqueci de viver para meu único motivo de viver, esqueci de viver para a mais linda pessoa, esqueci de viver para você meu amor. Eu não gosto de mulher, amo apenas você. Perdoa-me, eu te amo infinitamente.

Eu não sabia o que dizer. Muda, minha boca fez por mim, a resposta que ele queria ouvir, ou melhor, entender. Aquele foi o beijo indescritível. Aos poucos me ergueu na parede, ainda presa entre suas pernas. Só a respiração muito forte era um sinal de que ainda estávamos vivos. Já eram duas da madrugada quando entre tropeços e caricias fomos ao quarto, onde antes eu tinha planejado aquelas palavras horríveis, e agora, com aquele ranger de dentes e sensações excitantes nos entregamos literalmente de corpo e alma um ao outro, numa noite que passava vagarosamente. Mãos se entrelaçando, um corpo adentrando as entranhas do outro, se tornando uma só carne. Saciando a fome como hienas. Era animal, sentimental. Era bom. Aos poucos a euforia foi cessando. Os carinhos mais lentos, os beijos mais longos. Nos dois, um de frente para o outro trocando palavras nos intervalos de beijos e mordidas. Trocando juras de amor, promessas, planos para um futuro que talvez não fosse nada distante.

Amanhecemos em conchinha, foi a noite de amor mais explicita. Onde o amor entre ele e eu ficou cravado em nós dois. Desde aquele dia nunca mais deixamos de ser um casal apaixonado.

Algum tempo depois o selo dessa paixão chegou pelo meu e-mail. Uma confirmação. Faltavam àqueles mesmos cinco minutos daquele dia, que embora tenha seu lado ruim, teve seu lado maravilhoso. O tempo ainda não passava, a mesma chuva caiu, e em vês de paus e pedras nas mãos como na ultima vez, uma folha de papel letrada. Aquele barulho do carro entrando na garagem, os passos dele se aproximando da porta, a chave entrando na fechadura, o destrancar. Eu fiquei em frente da porta, como na ultima vez, com um largo sorriso no rosto. Ele entrou olhou para mim, jogou sua maleta no sofá e me deu um beijo cheio de amor colocando suas mãos nas minhas costas. Eu peguei suas mãos desci até minha barriga e olhei em seus olhos e disse com o maior sentimento de felicidade:

-Agora sim, nossa Família, está realmente formada.

Ele sorriu e escorreu uma lágrima de seus olhos, desceu até que seu rosto ficasse na altura me minha barriga, ficou por minutos admirando e acariciando-a. E disse que seu herdeiro ou herdeira, seria a criança mais feliz do mundo, e que ele não iria dividir a felicidade que tinha com sua mãe com ele, e sim multiplicar, para ser muito maior o amor dele pelos dois. Com um beijo mais apaixonado que o daquela noite ele suspirou e disse que era pai e esposo sim, mas antes que era o homem mais feliz desse mundo. 08/12/2008

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