quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Mas amor de verdade é assim não é?

Para ouvir enquanto ler, se possível. 


Mas amor de verdade é assim não é? 


Mas amor de verdade é assim não é? Um ama e o outro se machuca. Como alguém é capaz de judiar do coração de quem o ama. Tenho certo caso, ou acaso ou até mesmo fato, pra dividir o que traduz. Certa manhã, flor cochichou no pé da amiga o quanto era formoso e singelo o cravo que passeou pelo seu trechinho de terra. Sanhoso cravo era aquele sabe? Quando viu que eu o via tratou logo de sanhar-se no meu terreno. Foram aqueles bate-folhas, e foi mágico. O sol, que esperto, tratou de se por devagarzinho, pra deixar o amarelo das pétalas dele bem fortes. De fato, de imediato. Amou. E ele teve que ir, no vaso levado pela mão da moça. Amou como quem esquecera que o inverno chegava. Passou frio, e ficou acordada, esperando a jura de que voltaria sanhoso Cravo, cheirava a canela, e beijava, como beijava, não sabia, mas imaginou doce e envolvente, apaixonante. Amava como se Deus tivesse criado apenas aquele cravo no mundo. Tantos outros nem olhei, seguei. Foi aos poucos me faltando luz, pois não queria ver. Foi aos poucos me faltando água, pois nenhuma saciava. Queria o perfume daquele flor, queria a essência daquela canção que entrou na cabeça naquela manhã. Queria reviver o fim da tarde. Os olhos brilharam de novo. Era o mesmo vaso que voltava na mão da moça. Era outra primavera, o mesmo sol brilhava. Era ele, o amor Dela. Mas aos poucos os brilhos de alegria se confundiram. O sol se escondeu rápido de medo. O céu ficou cinza. O vaso voltará acompanhado. Uma cravo magenta pomposa, se pois atrás dele, olhando a pobrezinha com um olhar de coitada. A pobre Maria-sem-vergonha, tímida, como nunca antes, desviou o olhar quando viu os olhos do cravo. Parecia maldade. As lagrimas da pequena se confundiram com os pingos de chuva, ao mesmo tempo matando afogada e aumentando as mágoas. Morreu. Simples assim. Se não de corpo, de alma. Desacreditou de tudo e todos. Viveu assim, até quando Deus quis. E pensara sempre que via o cravo sanhoso por ai: Mas amor de verdade é assim não é? Um ama e o outro se ...

Ana Siqueira - 26 de novembro de 2010

2 comentários:

  1. Uma vez ouvi que num relacionamento há sempre o que ama mais. Não era pra ser assim.

    Lindo, Roberta. Ousado em metáforas na medida certa. Lindo, lindo!

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  2. Dizem que o amor é uma troca,
    mas acho que às vezes saio perdendo.

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